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Dólar alto contamina inflação de 2009

Patrícia Büll O dólar desvalorizado em relação ao real foi uma importante ferramenta no controle de preços no Brasil nos últimos anos. Com a crise financeira e a valorização da moeda americana, no entanto, esse cenário começa a mudar. Estudo feito pelo professor Joaquim Guilhoto, chefe do departamento de economia da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), mostra que cada 10% de valorização do dólar têm um impacto de 0,95% sobre o Índice de Preços no Atacado (IPA) e de 1,03% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – indicadores de abrangência nacional. "Isso significa que, mantido o cenário atual, com o dólar alcançando valorização de 30% sobre o real, já iniciaremos 2009 com uma inflação na casa dos 3%", afirma Guilhoto. O professor da FEA-USP diz que essa alta será diluída ao longo do ano, mas é certo que acontecerá. Ele ressalva ainda que o estudo não leva em consideração outros reajustes ou negociações entre os diversos setores envolvidos na cadeia produtiva. É um retrato da situação atual, sem acrescentar ou diminuir nada. O estudo analisou 55 setores que, de forma direta ou indireta, trabalham com algum tipo de insumo importado. É o caso, por exemplo, de máquinas para escritório e equipamentos de informática: uma valorização de 10% do dólar sobre o real resultaria em um reajuste de 4,34% nos preços desses produtos. Já no caso de equipamentos de comunicação, como telefones celulares, o impacto nos preços seria de 3,48%. "Mesmo alimentos, que deverão apresentar desaceleração de alta de preços por conta da queda da demanda por commodities, sofreria um impacto de 0,87%", explica Guilhoto. Commodities – O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Antonio Evaldo Comune, afirma que os "otimistas" acreditam que, apesar do efeito dólar sobre os preços, a inflação ficará controlada por conta da queda do preço das commodities. A tese seria que a menor demanda por alimentos faria os preços caírem, anulando o efeito da alta do dólar. "Eu, entretanto, faço parte daqueles que acreditam que o Banco Central terá problemas com o câmbio em 2009." Para Comune, o BC terá até de pensar em nova maneira de controle de preços, pois nenhum dos instrumentos disponíveis hoje será eficaz.